Dia Internacional da Mulher: E o bordado com isso?

8 de março já se tornou um dia em que o patriarcado nos oferece rosas pelo Dia Internacional da Mulher e nós respondemos com dados que provam que a desigualdade de gênero está enraizada na sociedade. Respondemos também com manifestações nas ruas, protestos nas redes sociais, e com muita arte politizada. O bordado livre é a mídia escolhida por muitas de nós para expressar indignação, para falar sobre ‘nossos corpos e nossas regras’ e para enaltecer a força feminina. Mas você sabe a razão disso?

No livro The Subversive Stitch: Embroidery e making of the feminine (algo como O Ponto Subversivo: Bordado e a criação do feminino em português [1984] 2010), a historiadora de arte Rozsika Parker explora a relação entre o fazer manual do bordado e a contrução da feminilidade ao longo dos séculos. Para ela, o feminino é uma identidade que pode ser “abraçada ou resistida” de acordo com fatores sociais, políticos e econômicos bem complexos que conectam as mulheres e o bordado desde a Idade Média.

Em Português: “Quando você se lembra que, historicamente, o bordado nunca foi levado a sério como uma mídia artística por ser ‘trabalho de mulher'”. Trabalho da @Hanecdot

Um exemplo usado por Parker é que o ideal de feminilidade da Renascença coincide  com o começo de uma divisão bem marcada do que era considerado arte e do que passou a ser delegado a um segundo plano como… artesanato. Curiosamente, essa ruptura começou na época em que o bordado passou a ser visto cada vez mais como um ofício de mulheres, no que mais tarde se refletiu em mudanças na educação artística e no acesso das mulheres às oficinas de trabalho e ao conhecimento acadêmico da arte. Parece pouco, mas será que se a escultura fosse também considerada uma técnica de artesanato, será que os nomes de Michelangelo ou Auguste Rodin seriam conhecidos até hoje? Ou nomes de mulheres artistas seriam mais uma vez esquecidos ao longo da história? Falar de bordado como uma mídia artística diz respeito então a valorizar o trabalho de (muitas!) mulheres e levar em  conta que a marginalização dessa técnica artesanal se deu justamente pelo bordado ser feito por nós, mulheres. Louco, não?

Que neste dia 8 de março a gente possa honrar nossas ancestrais e tantas mulheres que fazem do artesanato a renda de suas famílias colocando muito AMOR & LUTA nos nossos trabalhos manuais e suas mensagens. Que nós possamos empunhar nossas agulhas com muito orgulho para garantir nossos direitos, emancipar nossos corpos, ficar em paz com nosso sexo e sexualidade, e acima de tudo, para criar redes de apoio entre nós. A luta continua e o bordado continua sendo um forte meio de expressão feminino e feminista – ainda bem! ❤️

Risco de bordado que desenvolvemos para a #assinaturadoClube